Esta dúvida eu recebi recentemente de uma pessoa que acessou o curso de Gestão Financeira e como acho que pode ser uma dúvida recorrente, decidi escrever este artigo para responder esta questão.
Bom, vamos iniciar por partes, primeira coisa:
Empreender significa dar vida, fazer acontecer, fazer as ideias saírem do papel e se tornarem realidade e negócios, sendo assim para empreender é preciso ter perfil empreendedor, bastante força de vontade e ser capaz de fazer as coisas acontecerem, como costumamos dizer “não basta ter iniciativa, é preciso ter acabativa!”.
Se você se basear por esta frase acima irá perceber que para empreender não precisa, necessariamente, saber sobre finanças. No entanto, se você analisar os dados que o Sebrae e outras entidades dispõem sobre o índice de mortalidade de empresas no Brasil você chegará a conclusão que grande parte das empresas abertas acabam fechando suas portas devido ao não conhecimento e falta de planejamento financeiro.
Em função disso, meu conselho é: se você não sabe nada de finanças e quer empreender, seja consciente e busque ajuda, alie-se a alguém que saiba, contrate uma pessoa especializada para te ajudar, mesmo que este assunto seja considerado difícil ou chato para você ele é primordial para a sobrevivência de um negócio.
Fazendo um paralelo, é normal existirem empreendedores donos de restaurantes que não saibam cozinhar, mas para funcionar contratam pessoas especializadas para a função da cozinha e acabam aprendendo, pelo menos um pouco, para poderem testar a qualidade do que é servido.
Sendo assim, se você está mesmo decidido a empreender e não sabe nada de finanças, sugiro que mantenha seu sonho, vá em busca de todas as informações necessárias para abrir seu negócio e dedique parte de seu tempo para estudar e aprender, pelo menos o mínimo, sobre gestão financeira.
Mas o que é o mínimo de gestão financeira que preciso saber?
Esta é uma boa pergunta a se fazer e eu irei responde-la, de acordo com a minha percepção e experiência que adquiri ao longo do tempo ajudando empresários que estavam com esta mesma dúvida.
Vou elencar por ordem de prioridades, do que você deve aprender primeiro, porém tudo aqui é muito importante, então fique a vontade para mudar a ordem e aprender da forma que considerar melhor para si.
Primeiro tópico: entender sobre as entradas e saídas.
O primeiro item para uma boa gestão financeira é entender sobre entradas e saídas, ou seja, as receitas, custos e despesas, sejam fixos ou variáveis. Saber exatamente quais os valores previstos de cada um ajuda e muito você a traçar metas e visões futuras e até prever se o negócio será rentável ou não.
Se quiser saber mais sobre este assunto, acesse este artigo que explico melhor cada um deles.
Segundo tópico: conhecer o que é CMV ou CSP e como calcular
Após entender as diferenças de custos e despesas fixas e variáveis, é preciso conhecer um pouco sobre o Custo da Mercadoria Vendida, o famoso CMV ou Custo do Serviço Prestado, o CSP, se você for prestar serviços.
Entender, por exemplo, que o CMV de uma mercadoria envolve não só o preço que é pago por ela, mas também outros valores agregados, tais como fretes, embalagens e impostos. Isso é algo que acaba sendo negligenciado por alguns empresários no momento de calcular o CMV de seus produtos.
Terceiro tópico: margem, formação de preços e descontos
Sabendo os dois tópicos anteriores, sugiro que você se aprofunde em margem, formação de preços e descontos, entender, por exemplo, o quanto um % de desconto pode influenciar positivamente ou negativamente em seu negócio.
É comum ver que empreendedores em início de negócio recorram constantemente a política de descontos e preço baixo para incentivar um aumento das vendas, mas nem sempre um desconto é sinônimo de aumento de vendas e, principalmente, aumento de resultados *lucratividade, saiba o que é lucratividade aqui neste artigo.
Infelizmente, vi muito empreendedor dar descontos para gerar mais vendas e ao apurar os resultados, se deparar com um prejuízo e se perguntar: “como pode eu vender mais e ainda sim ter prejuízo?”.
Pois é, isto é mais comum do que se imagina, e se você não quer passar por isso, lembre-se entenda sobre preço, margem e lucratividade.
Quarto tópico: conheça os regimes financeiros
Sabendo os 3 itens anteriores, que não é nenhum bicho de sete cabeças da gestão financeira, vale estudar sobre como controlar o dinheiro da sua empresa e quais controles realizar para manter uma boa saúde financeira, mas antes é preciso entender dois conceitos bem simples que são:
Regime de caixa:
É controlar e registrar as entradas e saídas na data exata que ocorrerem. Exemplo: se você compra matéria prima dia 10 e paga à vista, você vai registrar este valor no dia 10. Se você comprar dia 10 e vai pagar dia 05 do próximo mês, você vai registrar esta saída de caixa somente no próximo mês.
O regime de caixa serve para você saber exatamente quando vai entrar ou sair o dinheiro, é o modelo de extrato bancário.
Regime de competência:
É controlar e registrar as entradas e saídas na data do fator gerador e não quando são recebidas ou pagas. Exemplo: você vende um serviço de R$10.000,00 no dia 10, mas o cliente pagará em 3x, você vai lançar esta venda no dia 10, independente de quando o cliente vai pagar, assim você tem um controle gerencial do quanto sua empresa está vendendo.
Importante: não existe regime melhor ou pior, os dois são igualmente importantes e devem ser utilizados em conjunto.
Mas por que eu preciso usar e saber sobre estes dois regimes financeiros?
Como já explicado, o regime de caixa, mostra o fluxo financeiro, ele pode mostrar, por exemplo, se no próximo mês você terá caixa ou não para pagar uma despesa que você contraiu hoje. Ele pode servir como um “dedo duro”, caso você se exceda na compra de matéria prima.
Já o regime de competência mostra a você se as suas decisões gerenciais estão dando resultado. Exemplo: você vendeu R$20.000,00 em produtos este mês, mesmo que os clientes pagarão somente no próximo mês, e você tem de custo na compra destes produtos R$10.000,00, significa que você tem um resultado gerencial de R$10.000,00 positivos. Ficou mais claro? Abaixo colocarei alguns gráficos para facilitar o entendimento.
Quinto tópico: Fluxo de caixa e DRE – demonstrativo de resultados do exercício
Depois de saber sobre os regimes financeiros e para que eles servem, vamos entender como usamos cada um deles e quais ferramentas você precisa aprender:
Fluxo de caixa:
É a ferramenta/instrumento que controla o dia a dia da empresa, controla o fluxo financeiro, quais são as entradas, quais são as saídas e quando elas ocorrem, é o extrato bancário, em outras palavras. Para fazer o fluxo de caixa você usa o regime de caixa. Saiba mais sobre fluxo de caixa neste artigo.
DRE – demonstrativo de resultados do exercício
É um documento contábil de demonstração obrigatório no Brasil, que tem como principal objetivo detalhar as operações realizadas na empresa em um determinado período de tempo. Neste documento o gestor da empresa pode identificar se o negócio teve lucro ou prejuízo no período analisado.
Na DRE devem estar detalhados o resultado líquido de um exercício, receitas, custos e despesas da empresa. Estas informações são fundamentais para que o empresário identifique a situação financeira da empresa e possa realizar um controle financeiro mais sólido e mais próximo da realidade.
Este documento costuma abranger um período de 12 meses do exercício financeiro da empresa – geralmente entre os meses de janeiro a dezembro, que é o período exigido pela lei.
Apesar disso, é comum encontrar usá-lo para fins gerenciais, nele o empreendedor consegue saber exatamente como está a gestão financeira de sua empresa e seus resultados. Aqui usamos o regime de competência.
Para facilitar o entendimento de cada um destes conceitos, vou ilustrar tudo que foi escrito antes com uma situação hipotética de uma empresa.
Imagine que esta empresa comercializa sapatos e compra seu estoque uma vez por mês com prazo de pagamento de 30 dias. Neste mês de fevereiro realizou a compra de R$20.000,00 de estoque e vai pagar dia 10 de março. Cada sapato é comprado por R$100,00 e revendido por R$200,00, logo foram comprados 200 pares de sapato.
A empresa vendeu 180 pares neste mês, seu imposto sobre vendas é de 10% e seus custos fixos e despesas são de R$5.000,00 ao mês. Veja abaixo como ficaria o DRE do mês de fevereiro. *este DRE é resumido e ilustrativo.
Ao analisar o DRE a empresa, é possível verificar que há um resultado final de lucro líquido de R$9.400,00 que corresponde a 26% do faturamento bruto, isso é a lucratividade, quanto a empresa lucra em relação ao faturamento.
Repare que a empresa comprou de estoque R$20.000,00, que seriam 200 pares de sapato, mas como vendeu 180, o CMV custo das mercadorias vendidas foi lançado o de 180 pares, ou seja, no DRE não está refletido o estoque.
Agora vamos analisar o fluxo de caixa resumido, levando em consideração que o saldo anterior de janeiro era positivo em R$3.000,00.
Este exemplo de fluxo mostra claramente que mesmo a empresa tendo um resultado gerencial de 26% de lucratividade, o seu extrato financeiro não mostra o mesmo resultado, pois em fevereiro a empresa está fechando no vermelho (-R$3.800,00).
Neste momento você pode perguntar: “mas a empresa não vendeu 180 sapatos a R$200,00 que é igual a R$36.000,00?”
Exatamente, a empresa vendeu R$36.000,00, porém parte dos seus clientes pagaram à vista e o restante preferiu parcelar, ou seja, mesmo tendo vendido R$36.000,00 a empresa está recebendo em caixa só R$25.200,00 que é parte das pessoas que compraram à vista mais uma parcela de pessoas que compraram a prazo nos meses anteriores.
Com estes exemplos, ficou mais claro para você a diferença dos regimes financeiros, seu uso e o uso correto das ferramentas?
Bom, dependendo da complexidade do seu negócio, se você entender bem estes conceitos descritos aqui e conseguir aplicar cada um deles no seu dia a dia, saiba que você já possui o nível básico de conhecimento para tocar sua empresa.
A partir daqui é traçar metas, analisar indicadores e colocar tudo em prática!
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